O prefeito de Bequimão, Antônio José Martins (PMDB), é o primeiro do
país a instituir a Semana do Bebê Quilombola, evento em defesa de
crianças de até seis anos de idade nascidas em comunidades remanescentes
de quilombos. A iniciativa lançada nesta segunda-feira (25), em
solenidade na Câmara Municipal de Bequimão, deve ser reproduzida pelo
Unicef em outros municípios do Brasil onde existem quilombolas.
Durante a assinatura simbólica da lei que instituiu a semana, o
prefeito lembrou que o município possui quase 13.500 habitantes negros, o
que representa cerca de 70% da população local. “São pessoas que
carregam consigo uma história de muita luta e de contribuição pelo nosso
município. Mas nem sempre essa população recebeu o devido valor”,
destacou Martins, para quem essa situação pode ser mudada com parcerias,
como as estabelecidas por conta da Semana do Bebê Quilombola. “Com
olhos mais sensíveis, vamos lutar para proporcionar melhor qualidade de
vida a esses povos”, completou o prefeito.
Trabalham em conjunto o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria
Estadual Extraordinária da Igualdade Racial, Prefeitura de Bequimão,
Unicef, Fundação Josué Montello, Pampers e RGE. Cada uma das dez
comunidades envolvidas também participou do planejamento das ações,
reunindo saberes tradicionais e intervenções que partem do poder
público.
O Unicef já apoia prefeituras que se interessam por realizar a Semana
do Bebê, mas é a primeira vez que o evento é direcionado às crianças de
quilombolas. O oficial do Unicef, Antônio José Cabral, que acompanhou o
primeiro dia de programação, defendeu a visão de que as crianças e
adolescentes precisam ser encarados como prioridade absoluta nas
políticas públicas. Segundo ele, o grupo com maior vulnerabilidade no
país são as crianças, principalmente aquelas que moram no nordeste e são
negras ou indígenas. “Precisamos trabalhar em cima das desigualdades
relevantes, para que as crianças vivam e cresçam sem violência, sem
trabalhar. Criança é para estar na escola ou brincando”, enfatizou
Cabral comentou, ainda, que muitas crianças brasileiras morrem antes
de completar um ano, vítimas de doenças que podem ser prevenidas com
vacinação ou pelo acompanhamento do pré-Natal. ”Toda criança deve ser
respeitada e cuidada. Com esta semana, queremos incentivar o
desenvolvimento integral desde a infância. Mais tarde, vamos olhar para
os indicadores e ver o que está mudando na vida dessas crianças. Vamos
perceber, então, que valeu a pena”, garantiu o representante do Unicef.
Em outubro, o prefeito de Bequimão assinou o termo de adesão e
inscreveu o município para participar da ação, que é pré-requisito para a
conquista do selo Unicef. O próximo passo é a elaboração de
diagnóstico e de um plano de ação visando a melhoria dos indicadores
sociais. No final de três anos, caso o município alcance a pontuação, é
conferido o selo.
Da cerimônia de abertura, participaram a secretária Estadual da
Igualdade Racial, Claudett Ribeiro; a representante da Fundação Josué
Montello, Karine Ericeira; a secretária municipal de Cultura e Promoção
da Igualdade Racial, Dinha Pinheiro; a presidente da Câmara Municipal de
Bequimão, Francinete Pereira, além de secretários municipais e
vereadores.
Comunidades
A programação da Primeira Semana do Bebê Quilombola se estenderá até
sábado (29), nas comunidades de Santa Rita, Rio Grande, Arquipá, Ramal
do Quindíua, Pericumã, Marajá, Conceição, Mafra, Sibéria e Juraraitá,
todas já certificadas pela Fundação Palmares. Enquanto era realizado o
lançamento oficial da semana, os pontos de luz, como são chamados os
mobilizadores, estimulavam as ações nos quilombos.
Foi momento de parar para ouvir histórias como as de dona Helena
Nogueira Gusmão, moradora da comunidade de Ariquipá. Ela relembrou a
lida diária para criar os dez filhos, quase todos nascidos pelas mãos
das parteiras Odete e Ziloca. “Elas ficavam três dias acompanhando a
gente, curando o umbigo da criança. Eu tinha muita confiança. Quando
dava dor, eu não achava outro jeito sem chamar elas”, contou. Para a
mulher parida, era servido galinha quase sem tempero. No resguardo, que
era o período de 40 dias após o parto, a mãe tomava purgantes e
“remédios de mato”.
As lembranças de dona Helena são acompanhadas pelo olhar curioso das
crianças. A mesma atenção é dada aos dentistas, médicos, enfermeiros e
agentes de saúde que participam da Semana do Bebê Quilombola,
sensibilizando pais e filhos para a necessidade de prevenção de doenças.
Um ponto forte é a sensibilização da comunidade para a utilização
cotidiana da multi-mistura, importante como complemento alimentar.
A Semana do Bebê Quilombola encerrará no sábado (30), com uma grande
caminhada no Centro de Bequimão, quando será levantada a bandeira contra
o racismo na infância.