Sessão de vídeo e fotos marca continuidade do projeto que cuida das crianças quilombolas em Bequimão
Na tela, o cenário era bem familiar e os sons que saiam da caixa
ecoavam os batuques e vozes do próprio cotidiano. O olhar curioso
buscava o autorreconhecimento. Sim, eram eles que estavam nas imagens
projetadas na parede da escola, no barracão ou mesmo na televisão da
sala. A cena se repetiu nas dez comunidades quilombolas de Bequimão, no
último sábado (29) e domingo (30), quando aconteceram as visitas
devolutivas da Primeira Semana do Bebê Quilombola, evento pioneiro no
país instituído pela Prefeitura Municipal de Bequimão, em novembro do
ano passado.
Foram exibidos um vídeo, com imagens captadas durante a Semana, e as
fotografias produzidas no período. Depois de se verem e relembrarem
momentos marcantes daqueles seis dias, os moradores das comunidades
responderam de maneira contundente que as mudanças já começaram a
aparecer. A principal delas é o resgate do sentimento de pertencer a um
quilombo, que se reflete na fala de adultos e crianças. “Tenho orgulho
de morar numa comunidade quilombola, porque juntos nós formamos uma
linda família. E eu tenho orgulho da minha cor. Sou negra de coração”,
garantiu a menina Alenice Cunha Melo, 11 anos, do povoado Conceição.
As visitas foram coordenadas pela secretária de Cultura e Promoção da
Igualdade Racial, Dinha Pinheiro, e pela representante da Fundação
Josué Montello, Gisele Padilha. No retorno às comunidades, a mensagem
era de continuidade da ação. A Semana do Bebê Quilombola foi somente o
ponta pé inicial para um trabalho permanente e planejado que vai ter
duração de três anos.
É que em outubro de 2013 o prefeito Zé Martins assinou o termo de
adesão ao Selo Unicef, concedido aos municípios que conseguem cuidar bem
das crianças de até seis anos. Para conseguir reduzir a mortalidade
infantil, a gravidez na adolescência, ampliar as oportunidades de acesso
ao esporte, lazer, educação e saúde, a aposta é em conciliar o saber
tradicional das parteiras, curandeiras e a experiência dos mais velhos
com as políticas públicas. “O que vai acontecer nessas dez comunidades,
com certeza, vai se ampliar para todo o município”, frisou Dinha
Pinheiro, que se tornou articuladora do Unicef em Bequimão, após
capacitação oferecida aos gestores municipais na Universidade Federal do
Maranhão (UFMA).
Reunida com representantes de diversas regiões do Maranhão, Dinha
teve a satisfação de receber constantes elogios, porque o município de
Bequimão tornou-se referência pela coragem de tomar a linha de frente no
trabalho pela infância quilombola. “Estamos criando uma rede de
parceiros no município, com as secretarias de Saúde, Educação, Esporte e
também com as famílias”, destacou a secretária de Cultura e Promoção da
Igualdade Racial.
A Semana do Bebê Quilombola aconteceu nas comunidades de Santa Rita,
Rio Grande, Arquipá, Ramal do Quindíua, Pericumã, Marajá, Conceição,
Mafra, Sibéria e Juraraitá, todas já certificadas pela Fundação Palmares
como remanescentes de quilombos. Equipes do próprio lugar foram
responsáveis pela busca ativa de pessoas que ainda não possuíam registro
de nascimento. Com essa ação, todas as crianças dessas comunidades
passaram a ter o direito ao registro civil. Por essa conquista, cada
líder das comunidades recebeu um certificado atestando o fim do
sub-registro civil de nascimento, até aquela data.
Quem participou da busca ativa também ganhou certificado. Já os
atletas que disputaram partidas de futebol ganharam medalhas e troféus.
Outra preocupação da coordenação do projeto é a manutenção dos cantinhos
para brincar. Foram doados brinquedos, de uso coletivo, para que se
proporcionem momentos de socialização e de maior atenção dos adultos a
essa importante fase do desenvolvimento humano. “Estamos com esperança
de que nossas crianças cresçam com mais inteligência, com mais estudo de
qualidade, saúde. A gente era um pouquinho esquecido e isso já mudou. A
gente agradece a Prefeitura por isso”, ressaltou dona Mayre Cantanhede,
49 anos, moradora do Santa Rita.
A Semana do Bebê Quilombola é uma promoção da Prefeitura de Bequimão,
instituída pelo prefeito Zé Martins, em parceria com o Unicef,
Secretaria Estadual de Igualdade Racial e Fundação Josué Montello.
Participaram da devolutiva a mobilizadora Rosana Alves, o músico João
Victor e o jornalista Romulo Gomes.
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